Atuação Profissional: além do consultório
Atuação Profissional: além do consultório
Atualmente sou professora na Especialização em Intervenção Comportamental e Planejamento para Vida Independente (EVI), do Departamento de Psicologia da UFSCar — uma formação voltada à inclusão e à promoção da autonomia de pessoas com deficiência ao longo de toda a vida. O curso é coordenado pela professora Camila Domeniconi e fundamenta-se no modelo Positive Behavior Support (PBS), articulando princípios da ciência comportamental e das políticas de educação inclusiva.
Minha atuação é voltada ao ensino de planejamento de apoios individualizados, suporte comportamental positivo, regulação emocional e intervenções centradas na pessoa, integrando teoria, pesquisa e prática em estudos de caso.
Antes da EVI, atuei como docente na especialização do LAHMIEI-Autismo/UFSCar, referência nacional na formação em Análise do Comportamento Aplicada (ABA) e Intervenções Comportamentais voltadas a pessoas com autismo e outros transtornos do desenvolvimento.
Também fui professora e supervisora no curso de psicologia do Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP), nas disciplinas de Análise do Comportamento Aplicada e Estágio em Clínica.
Durante esse período, orientei trabalhos de conclusão de curso nas áreas de saúde mental, maternidade e puerpério, autismo, parentalidade, ansiedade, relações familiares e comportamentos alimentares.
Minha trajetória na pesquisa começou ainda na graduação em Psicologia, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), quando tive o privilégio de realizar duas iniciações científicas — uma com financiamento do CNPq e outra da FAPESP.
Ambas investigavam como o contexto influencia o que dizemos e o que fazemos, explorando, de forma experimental, as relações entre linguagem, comportamento e ambiente. Foram dois estudos com crianças, que me ensinaram a observar com delicadeza como pequenas mudanças nas contingências podem transformar a forma como comunicamos o mundo.
Ao final da graduação, realizei intercâmbio na Universidad Nacional de Córdoba (Argentina), com bolsa da Associação de Universidades Grupo Montevideo (AUGM). Essa experiência foi um marco: estudar Psicologia em outro país ampliou minha compreensão sobre cultura, linguagem e modos de existir — e consolidou o desejo de seguir o caminho da ciência.
Em seguida, ingressei no mestrado em Psicologia na UFSCar, investigando o ensino da linguagem oral em contextos familiares.
Meu foco foi compreender como mães e pais ensinam linguagem naturalmente aos filhos, e como a ciência pode contribuir para tornar essas interações mais ricas e significativas.
Essa pesquisa resultou no livro Ensino da linguagem oral no contexto familiar: uma ferramenta de avaliação (UFSCar/CPOI, 2022), que tem sido utilizado em projetos de formação e extensão voltados à promoção da comunicação e da aprendizagem infantil.
No doutorado, também na UFSCar e com apoio da FAPESP, aprofundei essa linha de investigação e vivi uma experiência internacional na Universitat de Barcelona (Espanha), onde participei de seminários sobre desenvolvimento humano e aprendizagem mediada pela linguagem.
Durante esse período, desenvolvi uma pesquisa sobre ensino naturalístico de linguagem e apoio parental, voltada à realidade de famílias que enfrentavam desafios de comunicação no cotidiano.
Atualmente, no pós-doutorado em Psicologia pela UFSCar, desenvolvo uma pesquisa voltada à aprendizagem, linguagem e contextos familiares, com base na Ciência Comportamental Contextual. É uma continuidade da minha trajetória — um espaço para aprofundar a compreensão de como a linguagem e a cultura se entrelaçam na construção de sentido, na educação e nos vínculos humanos.
Se quiser conhecer mais o meu trabalho acadêmico, pode acessar o currículo Lattes.
A experiência que tive no Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (CREAS) foi um dos capítulos mais transformadores da minha trajetória.
Ali, encontrei a Psicologia em seu sentido mais amplo e comprometido: uma ciência voltada à dignidade humana, à redução de sofrimento social e à transformação de contextos vulneráveis.
Atuei diretamente com famílias em situação de vulnerabilidade e violação de direitos, acompanhando histórias atravessadas por pobreza, violência, negligência, sofrimento psíquico e solidão.
Nesse cenário, fortalecer vínculos, ampliar repertórios de enfrentamento, sustentar o cuidado e favorecer escolhas mais livres e conscientes é ao mesmo tempo essencial e desafiador.
Aprofundei-me no estudo das contingências sociais e culturais que moldam o sofrimento — compreendendo que, para que o indivíduo possa mudar, também é preciso transformar os contextos que o mantêm preso.
Trabalhar no SUAS foi um laboratório vivo de ciência aplicada à justiça social: uma forma de fazer psicologia que integra análise funcional, escuta sensível e compromisso ético com a coletividade.
Dessa vivência nasceu o livro Possibilidades de Atuação no SUAS: desafios, estratégias e perspectivas (Scienza, 2025), que organizei junto a colegas e pesquisadores.
A obra reúne capítulos sobre bases analítico-comportamentais da política de assistência, masculinidades, envelhecimento, práticas intersetoriais e, articulando teoria e prática cotidiana no serviço público.
A atuação no CREAS me ensinou que não existe cuidado verdadeiro sem contexto, e que transformar as condições que mantêm o sofrimento é também um ato de amor.