Modelos da Ciência Comportamental Contextual que embasam o Processo Terapêutico: ACT e FAP
Modelos da Ciência Comportamental Contextual que embasam o Processo Terapêutico: ACT e FAP
A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) faz parte do movimento das terapias comportamentais contextuais, fundamentadas em décadas de pesquisa sobre comportamento, linguagem e cognição.
Ela foi desenvolvida por Steven C. Hayes, Kelly Wilson e Kirk Strosahl, e integra evidências da Teoria das Molduras Relacionais (RFT) — um modelo que explica como o uso da linguagem influencia o modo como pensamos, sentimos e nos relacionamos com o mundo.
A ACT parte da ideia de que o sofrimento faz parte da experiência humana.
Em vez de lutar para eliminar a dor, aprendemos a fazer espaço para ela, a reconhecer nossos pensamentos e emoções como eventos passageiros, e a agir com base no que tem valor, mesmo diante do desconforto.
O processo terapêutico se organiza em torno do desenvolvimento da flexibilidade psicológica, ou seja, a habilidade de estar presente, aceitar o que não pode ser mudado, e agir de forma coerente com os próprios valores.
Isso envolve cultivar seis processos principais, que se entrelaçam como um ciclo contínuo de crescimento:
-Aceitação das experiências internas difíceis, sem resistência.
-Desfusão cognitiva, para observar pensamentos sem se prender a eles.
-Contato com o momento presente, com abertura e curiosidade.
-Eu como contexto, uma perspectiva mais ampla de si mesmo, que permite observar o que se sente e pensa com gentileza.
-Valores, aquilo que realmente importa e orienta a vida.
-Ação comprometida, passos concretos e sustentados em direção ao que tem sentido.
Na prática, a ACT oferece um caminho para viver com mais presença, coerência e propósito — não eliminando a dor, mas aprendendo a se mover com ela.
A transformação acontece quando a pessoa passa a se relacionar com seus pensamentos e emoções de um modo novo, com curiosidade, aceitação e gentileza, abrindo espaço para uma vida mais rica e significativa.
O modelo Consciência, Coragem e Amor (Awareness, Courage and Love – ACL), proposto por Tsai, Kohlenberg, Kanter e colaboradores, nasce da Psicoterapia Analítica Funcional (FAP), uma das principais abordagens dentro da Ciência Comportamental Contextual — o mesmo campo teórico que fundamenta a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT).
Esse modelo propõe que o vínculo terapêutico seja o principal espaço de mudança.
Tanto o terapeuta quanto o cliente são convidados a se relacionar, dentro da sessão, com consciência, coragem e amor — três processos que orientam a construção de uma relação viva, segura e transformadora.
Consciência é a capacidade de estar presente e perceber, com clareza, o que acontece no encontro: emoções, pensamentos, necessidades, impactos e valores.
Coragem é o movimento de se mostrar autêntico, falar com vulnerabilidade, pedir o que precisa e sustentar o desconforto quando ele surge.
Amor (ou responsividade) é o ato de responder com sensibilidade e cuidado às ações do outro, criando um espaço de confiança e crescimento mútuo.
Quando esses três elementos estão presentes, a sessão torna-se um laboratório relacional, em que padrões de evitação, medo ou afastamento podem ser observados e transformados no aqui-agora.
O que é vivido na relação terapêutica se amplia — com consciência, coragem e amor — para a forma como o cliente se relaciona consigo e com as pessoas fora do consultório.
Esse é o propósito da terapia que conduzo: um espaço humano e científico, onde o vínculo não é apenas meio, mas parte essencial do processo de mudança.