Sou a Lívia Balog, psicóloga, mestre e doutora pela UFSCar.
Mas, antes de qualquer título, sou alguém que viveu o que é encarar a dor de perto e sentir a vida perder o sentido.
No final da graduação, perdi minha prima muito amada.
Foi um corte profundo — uma dor que não cabia em nenhum conceito que eu havia estudado.
Mesmo imersa na Psicologia, na razão e na ciência, nada fazia sentido.
E nesse vazio, me vi mergulhada em dor e sem saída.
Pouco tempo depois, participei como voluntária de uma pesquisa sobre a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), voltada a profissionais que trabalhavam com pessoas autistas.
Durante o encontro, a pesquisadora conduziu um exercício — a metáfora do tabuleiro de xadrez.
Enquanto ela falava, senti que algo se abria dentro de mim:
eu não era mais apenas as minhas peças, meus pensamentos, meus medos, minha luta interna ou a dor que me dilacerava — eu era o tabuleiro inteiro.
Saí daquela sessão outra Lívia.
Pela primeira vez, olhei de frente para o que doía, sem tentar fugir.
Entendi que a dor não precisava ir embora para que eu pudesse viver.
E que havia uma forma de me relacionar com o sofrimento sem me perder nele.
Esse foi o início de um caminho que transformou não só minha prática, mas minha própria existência.
A ACT me apresentou uma nova forma de compreender o humano:
ela não busca eliminar o sofrimento, mas ensinar a se mover com ele, de forma consciente e comprometida com o que tem valor.
Ao me aprofundar, encontrei na Teoria das Molduras Relacionais (RFT) uma chave ainda mais profunda:
a compreensão de que a linguagem é o que dá forma ao nosso mundo, mas também o que pode aprisionar nossa mente.
Tudo o que pensamos — “bom”, “ruim”, “certo”, “errado” — é arbitrário.
Nada tem sentido em si mesmo; nós é que construímos o sentido.
E, justamente por isso, temos o poder de reconstruí-lo.
É uma forma de ciência que, paradoxalmente, abre espaço para o mistério.
Com o tempo, percebi que, ao compreender como o sofrimento funciona — suas raízes linguísticas, suas armadilhas cognitivas —, podemos ir além da linguagem.
Podemos tocar algo que vem antes das palavras: uma presença silenciosa, que nos conecta à vida, ao outro e ao que há de sagrado em existir.
Foi essa percepção que me levou a escrever sobre espiritualidade e consciência, integrando ciência e experiência, razão e sentido.
Hoje, na minha vida profissional e pessoal, me dedico a, de alguma forma, ajudar pessoas a pararem de lutar contra a dor e, em vez disso, cultivarem uma relação mais ampla e amorosa consigo mesmas e com o mundo.
Meu trabalho é guiado pelos mesmos valores que me sustentaram quando tudo parecia ruir:
consciência, coragem e amor.